27 julho 2009

Curiosidades

A descoberta dos corantes

Esse fascínio é evidente se pensarmos que há cerca de 40 000 anos os homens utilizavam pigmentos naturais, dispersos em gorduras animais, em pinturas rupestres um pouco por todo o mundo.

De fato, o fascínio do ser humano pela cor (e pela luz) é um arquétipo que nos acompanha desde os primórdios da História. O homem adorou o Deus sol, o Deus raio, a Deusa lua, o Deus fogo, enfim, várias fontes de luz e associou-lhes cores. Em todas as culturas, os corantes e pigmentos cumpriram funções semelhantes: na Idade da Pedra, o ocre vermelho era quase omnipresente em ritos funerários. O vermelho simbolizava o sangue em muitas culturas e relacionava-se com divindades de guerra como Marte, Febo e Ares: o vermelho era habitual nas pinturas de guerra dos soldados para que o poder dos deuses os acompanhasse.

Concomitante com a adoração de vários emissores de luz, quer a luz quer a cor, foram utilizadas pelos seres humanos de forma terapêutica. Aristóteles, Pitágoras, Paracelso, Goethe e Steiner dissertaram sobre o efeito da cor no homem e já os antigos egípcios usavam a fototerapia para tratamento de algumas afecções dermatológicas. Também a cromoterapia teve os primeiros adeptos nos sacerdotes egípcios.

Encontram-se vestígios de corantes em tecidos encontrados em múmias egípcias, tingidos com, por exemplo, indigo azul, extraído da planta homônima (Indigofera tinctoria), ou vermelho alizarina, da garança ou ruiva dos tintureiros (Rubia Tinctoria). Os egípcios utilizavam ainda pigmentos sortidos (os pigmentos distinguem-se dos corantes por não serem solúveis no meio de aplicação), que incluíam os primeiros pigmentos de síntese: branco de cromo e o azul do Egipto - preparado por calcinação de uma mistura de areia e cobre - que se tornou um importante item de exportação. Utilizavam também pigmentos naturais como o azul ultramar, proveniente do lápis-lazúli, ocres vermelho e amarelo, hematite, calcário amarelo, ouro em folha, malaquite, carvão, negro de fumo e gesso natural.

Foram igualmente os egípcios que descobriram novos aglutinantes para estes pigmentos, goma arábica, clara de ovos, gelatina e cera de abelhas, aglutinantes que seriam usados até ao século XV quando Jan van Eyck e o seu irmão Hubert revolucionaram a pintura com a introdução do óleo de linhaça - e da pintura a óleo. Será a tinta homogênea inventada por van Eyck que Gutenberg utilizará na sua prensa.

Mas não é a falta de pigmentos ou aglutinantes que nos mostra uma Europa medieval vestida de cores tristes e apagadas. Se a natureza é rica em pigmentos vibrantes, os corantes necessários para tingir tecidos restringiam-se a poucos mais que os utilizados desde a Antiguidade clássica. E muitos destes corantes eram demasiado caros para a maioria da população pelo que a escolha da cor da roupa na Idade Média assentava em considerações monetárias e não estéticas. Para além de as cores do vestuário medieval serem ditadas pela bolso - e estatuto social - dos utilizadores, estas desbotavam rapidamente embora se utilizassem mordentes para fixar os corantes, como o alúmen já utilizado pelos egípcios.

Apenas em pleno século XIX a química coloriu o quotidiano dando vida à vida, cor às cores, para mostrar a alegria do existir e a razão do viver. Em 1856 William Perkin sintetiza a mauveína e com os seus verdes 18 anos percebe as potencialidades da descoberta dedicando-se por uns anos à produção deste - e outros- corantes sintéticos. O sucesso da mauveína assinalou o nascimento da moderna indústria de corantes sintéticos, que se desenvolveu principalmente na Alemanha do virar do século.

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